quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

TORTURE SQUAD - Far Beyond Existence (Álbum)


2017
Importado

Nota: 8,1/10,0

Tracklist:

1. Don’t Cross My Path
2. No Fate
3. Blood Sacrifice
4. Steady Hands
5. Hate
6. Hero for the Ages
7. Far Beyond Existence
8. Cursed by Disease
09. You Must Proclaim
10. Just Got Paid
11. Torture in Progress
12. Unknown Abyss


Banda:


Mayara “Undead” Puertas - Vocais
Renê Simionato - Guitarras
Castor - Baixo, backing vocals
Amílcar Christófaro - Bateria


Convidados:

Dave Ingram - Vocais em “Hate”
Edu Lane - Narração em “Cursed by Disease”
Luiz Carlos - Vocais em “You Must Proclaim”
Marcelo Schevano - Órgão Hammond em “Torture in Progress”
Alex Carmargo - Vocais adicionais em “Just Got Paid”


Contatos:

Instagram:
Bandcamp:
Assessoria: www.metalmedia.com.br (Metal Media)


Texto: Marcos “Big Daddy” Garcia


Muitas bandas constroem carreiras sólidas sob os pilares da evolução. O trabalho de um grupo que satisfaz alguns fãs hoje e não a outros no dia de hoje, dentro de um intervalo de tempo considerável, pode ter efeito reverso. E o TORTURE SQUAD, de São Paulo (SP), vem com mais um disco, “Far Beyond the Existence”, e mais uma vez, diferente, até mesmo inusitado, diante de seu passado.

O Death/Thrash do passado, de discos como “Hellbound” e “Æquilibrium” com boas melodias deu lugar para um Thrash Metal mais seco e sujo em “Esquadrão de Tortura”. Quatro anos após o último, “Far Beyond the Existance” é uma continuação em relação ao estilo delineado no EP “Return of Evil”, ou seja, a banda rebuscou seu lado mais Death Metal, mantendo a influência de Thrash Metal em muitos momentos (especialmente nas guitarras).  Até aqui, só elogios, mas nem tudo são flores em “Far Beyond Existance”.

O disco foi produzido e mixado pelo quarteto, com a parceria entre eles, Tiago Assolini e Wagner Meirinho (este último também fez a masterização). A gravação ficou em um nível ótimo, equilibrando bem a agressividade, o peso e a clareza para que o álbum seja entendido em sua totalidade. Talvez o melhor ponto de todo o processo seja a valorização do trabalho do baixo e bateria, pois o primeiro está muito audível, algo bem raro em discos de bandas do gênero.

A arte de Rafael Tavares para a capa de “Far Beyond Existance” é muito bonita, em uma arte bem soturna e agressiva, mas feita com esmero e bom gosto. Ela tende a um lado mais sombrio, o que de certa forma é a tônica estilística do álbum.

A coisa começa a ter problemas justamente em um ponto que o TORTURE SQUAD não falha: na questão de “conjunto”, ou seja, como os integrantes soam tocando ao mesmo tempo, como uma banda.

Esmiuçando: Amílcar está ótimo como sempre na bateria, com muita técnica e peso, Castor é a segurança do ritmo do grupo (e mostra alguns momentos técnicos de primeira), e ambos formam uma das melhores sessões rítmicas do Metal brasileiro. O trabalho de Renê nas seis cordas é fantástico, com ótima técnica e riffs certeiros, e solos melodiosos (de onde as linhas melódicas), seguindo a tradição do grupo sempre ter bons guitarristas. Mayara canta bem, dona de um vocal gutural diferente do agressivo feminino comum (ela tem um jeito mais próximo de George “Corpsegrinder” Fisher do que para Angela Gossow, uma tendência bem comum), bons urros rasgados e uma dicção muito boa, mas é onde a coisa começa a mostrar problemas, já que a coesão entre partes instrumentais e vocais não está 100%. Ao contrário de “Return of Evil”, onde se percebia que a banda ainda necessitava de mais ensaios e estrada para a nova formação se ajustar. E este problema já deveria estar resolvido pelo tempo, idéia que a banda deu em sua participação no tributo ao MOTORHEAD. É preciso se reinventar, se ajustar, para que as peças do quebra-cabeça musical da banda se encaixem. Não basta talento, mas eficiência.

No aspecto musical, a banda realmente andou se superando. Embora não esteja reinventando a roda, óbvio que eles apresentam em “Far Beyond the Existence” músicas muito boas.

A versão que este autor tem em mãos tem 12 canções (um cover para “Just Got Paid” do ZZTOP, e uma outro sinistra, “Unknown Abyss”). E as melhores canções são “Don’t Cross My Path” e sua pegada Thrasher com tempos rápidos (onde a bateria está perfeita nas conduções e viradas, além das incursões no Death Metal), o massacre opressivo de “No Fate” (já um pouco mais voltada ao Death Metal, com riffs diretos e certeiros), a mais cadenciada e bem trabalhada “Steady Hands” com suas belas passagens de baixo, a veloz “Hate” (que tem a presença de Dave Ingram, ex-vocalista do BENEDICTON em alguns momentos nos vocais), a cadência bem trabalhada de “Far Beyond Existence” e a aula de riffs e solos das guitarras, a exibição de gala de baixo e bateria nas partes mais ganchudas de “You Must Proclaim”, a roupagem mais agressiva de “Just Got Paid”, onde nota-se como a voz limpa de Alex Camargo é muito boa e encaixa (e em nenhum momento a aura Southern Rock/Blues Rock da canção foi afetada, onde as guitarras mostram partes com slides, e o baixo está ótimo), e a instrumental “Torture in Progress”, onde se percebe um Groove forte, um swing apurado, e embora o trabalho nas guitarras seja perfeito, baixo e bateria estão muito bem, sem contar a presença de um Hammond que dá um toque psicodélico/lisérgico (uma participação especial de Marcelo Schevano, do CARRO BOMBA, GOLPE DE ESTADO, CASA DAS MÁQUINAS, e uma lição de que o ecleticismo musical pode sempre fazer a diferença na hora certa). Não há menção aos vocais justamente por eles não estarem em perfeita sintonia com o que o grupo exibe em termos instrumentais.

Embora não tenha rendido tudo que poderia, “Far Beyond Existence” é um disco muito bom, mostra um TORTURE SQUAD renovado e pronto para novos desafios.